O segredo para uma conexão mais profunda com a China
Se você me acompanha aqui, já sabe que este ano fiz uma viagem para a China, passando por cinco cidades e viajando mais de 1.000 km, de Shanghai até Hubei.
Hoje, começo uma série de postagens sobre minha experiência na China em 2024. Pretendo abordar as dificuldades, facilidades e impressões que, como antropólogo, me permitiram observar nuances que passam muitas vezes despercebidas. Embora o espaço aqui seja curto para relatar tudo, vou seguir a ordem das minhas vivências e explorar o que de mais marcante aconteceu em cada etapa. Futuramente, espero organizar um livro com fotos e detalhes, mas, por enquanto, vou compartilhar algumas dessas experiências por aqui.
Chegar em Shanghai foi surpreendentemente tranquilo. Após passar pelos aeroportos de Frankfurt e Zurique, onde percebi maior rigor no processo de imigração, foi na China que tudo ocorreu de forma ágil e descomplicada. Preenchi um pequeno formulário com a ajuda de uma atendente e, em poucos minutos, ouvi a única pergunta que me fizeram: “Você está viajando a trabalho ou de férias?” Esse início marcou o tom de uma experiência que, de muitas maneiras, superou minhas expectativas.
No entanto, minha tentativa de pegar o metrô no aeroporto já revelou os desafios que enfrentaria ao longo da viagem. Embora meu cartão estivesse vinculado ao WeChat e funcionasse bem para outras compras, para pagar o metrô era necessário baixar um aplicativo adicional dentro do próprio WeChat, que enviava um SMS com código de confirmação. Como meu número era brasileiro, o código não chegou. Isso poderia ter sido um problema, mas graças ao mandarim consegui resolver a situação: comprei um cartão de transporte e, com a ajuda da atendente – que mesmo ocupada se mostrou disposta a ajudar – planejei meu trajeto até o hotel. Nesse momento, uma sensação inesperada se instalou: a de familiaridade.
O que muitos esperavam que fosse um choque cultural, para mim, foi uma experiência de conexão. Estudar a China por anos, ter amigos chineses e uma certa fluência no mandarim me permitiram transitar com facilidade e olhar o entorno como um lugar-comum. Essa sensação de estar à vontade me acompanhou durante toda a viagem, mesmo ao explorar outras cidades.
Um dos pontos que mais quero destacar aqui quando se trata de conhecer a China, é o papel do idioma. Embora Shanghai seja uma cidade cosmopolita, onde muitas pessoas falam inglês, minha experiência foi significativamente melhor usando mandarim. Mesmo que, em alguns momentos, tenha recorrido a aplicativos de tradução, notei que falar o idioma – ou pelo menos tentar – gera uma abertura cultural muito maior. Absolutamente todas as pessoas com quem conversei demonstraram paciência e receptividade, algo que, acredito, foi intensificado pelo uso do mandarim.
Falar inglês pode ser funcional, mas muitas vezes mantém uma barreira cultural invisível. Ser tratado como um estrangeiro educadamente é uma coisa, mas usar o mandarim me abriu portas para um universo de nuances culturais e de convivência que só o idioma permite acessar.
Essa experiência reforçou algo que já venho dizendo há algum tempo: para empresas e indivíduos que desejam se adaptar e se comunicar efetivamente na China, a familiaridade com a cultura e o domínio do mandarim são diferenciais. Não é necessário ser fluente, mas demonstrar interesse e tentar usar o idioma no cotidiano não só facilita a adaptação, como também aprofunda a compreensão das dinâmicas culturais e sociais do país.
Mesmo com a fama de ser um idioma difícil, o básico pode ser aprendido com relativa facilidade. Demonstrar interesse e tentar falar o idioma já é, por si só, uma forma de respeito à cultura local. E essa atitude, acredite, abre muitas portas.
Essa foi apenas a primeira impressão de uma jornada inesquecível. Nos próximos posts, vou explorar mais detalhes e aprendizados da minha experiência na China. Se quiser ver mais da viagem, confira os vídeos que estou publicando na minha playlist no YouTube:
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